@PHDTHESIS{ 2019:2022116581, title = {Estratégias de forrageio e rede social em primatas de vida livre: uma abordagem experimental}, year = {2019}, url = "http://www.tede2.ufrpe.br:8080/tede2/handle/tede2/8372", abstract = "Primatas, incluindo o ser humano, possuem um grande tamanho de cérebro e habilidades cognitivas complexas que os possibilitam de armazenar, recuperar e integrar informações para resolver problemas. Duas hipóteses tentam explicar a evolução cerebral em primatas, a hipótese ecológica e a hipótese social. No entanto, esta pode ser uma falsa diferenciação, uma vez que ao viver em grupos estáveis e habitar ambientes dinâmicos, os primatas devem ser capazes de utilizar tanto informações ecológicas, como a disponibilidade de recursos no tempo e espaço, quanto informações sociais provenientes da identidade, comportamento e relações entre os membros do grupo, para tomar decisões. Neste contexto, a vida social pode oferecer uma série de vantagens e desvantagens para os animais que vivem em grupo. Em se tratando da procura e obtenção de alimento, viver em grupo pode apresentar custos associados ao aumento da competição pelos recursos, assim como benefícios relacionados a uma melhor localização, acesso e defesa destes recursos. Assim, nesta pesquisa, utilizamos o sagui comum (Callithrix jacchus), uma espécie de primata coesa e cooperativa, como modelo para investigar como diferentes contextos ecológicos de disponibilidade de alimento e fatores sociais como a posição hierárquica, idade e sexo, afetam as estratégias de forrageio, o sucesso alimentar e as redes sociais entre os membros do grupo durante o forrageio social. Para tanto, realizamos uma série de experimentos de campo nos quais a distribuição (concentrada ou dispersa), produtividade (alta, média ou baixa quantidade) e o tipo de alimento (fruta ou inseto) foram manipulados para simular diversas condições alimentares encontradas na natureza. Ao investigar o uso de estratégias e o sucesso alimentar dos indivíduos nas diferentes condições experimentais encontramos que, exceto quando se tratava da fêmea reprodutora, a posição hierárquica e as interações agressivas (competição direta) não foram fortes preditores do consumo alimentar em saguis. Em cada grupo, a fêmea reprodutora foi a mais dominante e obteve o maior sucesso alimentar. No entanto, os outros membros do grupo, incluindo adultos e juvenis, apresentaram sucesso relativamente similar entre eles. Nossos resultados apontam que isto foi alcançado através de um equilíbrio no uso de estratégias relacionadas com a competição direta (principalmente por parte da fêmea reprodutora), competição indireta (formas não agressivas de competição relacionadas com a vantagem do descobridor) e tolerância nos sítios de alimentação. Para examinar a rede social dos saguis durante o forrageio avaliamos as associações que ocorriam nos sítios de alimentação entre os membros do grupo (número de indivíduos e tempo compartilhando um sítio alimentar) e assim investigar mais a fundo a tolerância social desta espécie nas diferentes condições experimentais. De acordo com nossos resultados, associações mais fortes foram encontradas quando o alimento se encontrava concentrado. Juvenis compartilharam plataformas com um maior número de indivíduos e por mais tempo do que adultos. Observamos maior força nas associações entre díades (preferência de parceiros) compostas por indivíduos de posições hierárquicas próximas, por sexos diferentes (fêmea-macho) e por idades diferentes (adulto-juvenil). No entanto, estas associações de forrageio entre díades variaram de acordo com as distintas condições ecológicas, sendo mais fortes quando o alimento se encontrava concentrado em um único sítio de alimentação, independentemente da quantidade de alimento. Assim, nós evidenciamos que o sagui comum é capaz de utilizar e integrar tanto informações ecológicas como informações sociais para tomar decisões durante o forrageio social, ajustando seus comportamentos e associações dentro do grupo para obter acesso aos recursos, maximizar seu sucesso alimentar e manter a coesão grupal tão importante para a espécie. Em conclusão, esta tese contribuiu para demonstrar que, considerando as características sociais da espécie estudada (cooperação e estrutura social piramidal), a mesma não se ajusta ao modelo socioecológico clássico com relação à competição alimentar intragrupo. Além disso, mostrou-se que dentro de um grupo social os indivíduos desta espécie formam relações afiliativas com todos os outros membros do grupo ao se associarem durante o forrageio, resultando em grupos coesos e tolerantes durante uma atividade potencialmente competitiva. Salientamos assim, a necessidade de considerar e incorporar em futuros estudos e modelos tanto os custos como os benefícios que a vida social traz tanto a nível individual como grupal. Finalmente, destacamos a relevância de utilizar experimentos em campo para investigar sistematicamente questões socioecológicas em grupos primatas habitando seu ambiente natural.", publisher = {Universidade Federal Rural de Pernambuco}, scholl = {Programa de Pós-Graduação em Etnobiologia e Conservação da Natureza}, note = {Departamento de Biologia} }